Como acumular bitcoin de forma estratégica
Tutorial simples de como utilizar as ferramentas atuais pra economizar com taxas de rede pra quem está começando
Esse texto foi criado para ser um guia simples de como acumular seus bitcoins em uma estratégia racional de otimização de taxas de rede, utilizando as ferramentas atuais disponíveis para o bitcoinheiro, principalmente no mercado brasileiro.
Algumas premissas:
A intenção principal é usar a estratégia abaixo como guia para economizar em taxas de rede e ter o melhor trade-off possível durante o período (não largar bitcoin na corretora), sem recorrer a shitcoins em nenhum momento
O cenário aqui imaginado é um provável cenário futuro onde as taxas onchain estejam constantemente ALTAS; muitos vão passar o dia reclamando mas o texto mostra que é completamente possível se adaptar a essa realidade e consolidar seu bitcoin onchain de maneira estratégica
Tudo aqui pode ser feito sem o uso de hardware wallets, ou seja, não existe nenhum impedimento para um usuário iniciante começar a acumular seguindo esse roteiro
O ótimo é inimigo do bom; reclamar da realidade não adianta - use as ferramentas disponíveis e fique longe de shitcoins
Não tenho a intenção de entrar no detalhe mais leigo de cada assunto aqui; pra isso, dedique algum tempo de estudo pra entender cada elemento discutido através de fontes confiáveis
Conhecimento básico sobre bitcoin é necessário pra entender tudo mas tentei deixar o mais simples possível
Camada base cada vez mais cara
A evolução natural da camada base do bitcoin, também conhecida como layer-1, é se tornar cada vez mais cara e restrita por seu tradeoff essencial: armazenar valores na rede mais segura do planeta. Isso significa que os tempos de transacionar onchain para pequenos valores, acumulação simples de compra mensal de bitcoins ou gastos esporádicos vai se tornar cada vez mais inacessível para pequenos valores e para iniciantes.
Nada disso significa que será impossível transacionar onchain - apenas que o custo disso será cada vez mais alto, conforme a demanda cresce, número de usuários e o preço do bitcoin em moeda fiat padrão. Isso é natural e esperado.
Soluções fora da camada base
Felizmente, hoje já existem soluções suficientes para que o usuário possa continuar empilhando seus satoshis sem abrir mão da segurança - obviamente que a segurança da camada base é incomparável as demais camadas, mas novamente o principal aqui é entender as possibilidades e traçar uma estratégia racional para navegar nesse cenário.
Existem principalmente duas outras maneiras de armazenar bitcoins: usando a rede Lightning e usando a rede Liquid.
Rede Lightning
A rede lightning permite transações rápidas e instantâneas entre partes utilizando a camada base como alicerce, porém traz ainda uma série de desafios: o primeiro deles é que seu modelo é baseado em canais entre vários nodes, necessitando de gestão de liquidez, mitigação de riscos de ataque (diferente do bitcoin, na rede lightning é necessário conexão permanente e uma carteira sempre online), custos de manutenção e estrutura, entre outros. O principal é que para o usuário tradicional que não deseja/não possui capital suficiente para rodar seu próprio node lightning, as soluções geralmente são aplicativos mobile que fornecem a gestão da carteira em custódia terceirizada (como a Wallet of Satoshi) ou que fazer a abertura/fechamento de canais de maneira transparente (como a Muun).
No caso das soluções onde o usuário depende da custódia de um terceiro, o tradeoff é óbvio: você abre mão de ter o bitcoin em sua posse real e depende de um serviço/empresa, que pode desaparecer a qualquer momento, tomar um rugpull etc. Porém o usuário ganha em comodidade e rapidez. Esse modelo é útil para o armazenamento de pequenos valores, similar a levar algumas notas de Real na carteira para gastos corriqueiros.
Já a solução com custódia própria é mais interessante porém oferece vários desafios:
celulares não são os melhores dispositivos para usar como node lightning por desafios comuns como manter o aplicativo rodando em segundo plano e consumo de banda
a abertura/fechamento de canais ainda é necessária e em momentos onde a camada base está muito cara isso acaba sendo proibitivo
muitas vezes a conveniência acaba se tornando um problema e as carteiras não tornam muito transparente o custo envolvido em cada operação, resultando em situações onde um simples recebimento de satoshis envolve a abertura de um canal sem o usuário saber
Ainda existem inúmeras melhorias a serem feitas na rede Lightning e isso vai levar tempo, algumas vão exigir que mudanças na camada base aconteçam, mas o ponto aqui é que a Lightning serve muito bem pra quem possui recursos e conhecimento pra rodar um node por conta própria, mas não tanto para usuários tradicionais.
Sidechain Liquid
A Liquid é uma sidechain - ou seja, é uma rede completamente diferente que roda “lado a lado” com a rede bitcoin. A rede é mantida por uma federação descentralizada, com agentes espalhados pelo globo “minerando” blocos a cada 1 min. Essa rede tem um nível de segurança menor que a do bitcoin pois envolve a confiança em terceiros e não possui proof-of-work, porém é um modelo interessante para servir de intermediário dependendo dos valores a serem transacionados.
Dentro dessa rede existe um token chamado L-BTC, que é o BTC representado dentro dessa rede 1:1, ou seja, o preço de 1 BTC em fiat é igual ao preço de 1 L-BTC. Bitcoins são travados na camada base e L-BTCs são criados nessa rede (peg-in) e o processo contrário também acontece (peg-out).
As vantagens da liquid:
Transações confidenciais: essa blockchain possui como padrão um nível de segurança maior, com os valores em cada transação sendo ocultos, visualizados somente entre o pagador e o recebedor
Blocos novos gerados a cada 1 min
Taxas de rede muito baixas por seu uso ainda ser pequeno
Permite também a existência de stablecoins, como dólar Tether (vai de cada um usar ou não, não faz parte do escopo desse tutorial)
Criação de uma carteira liquid segue um modelo muito parecido com o bitcoin, anotando uma sequência de palavras para realizar o backup
As transações também funcionam de maneira muito similar a camada base do bitcoin: você envia L-BTCs para um endereço e recebe em um endereço
Desvantagens:
Segurança inferior; necessário confiar em um terceiro (no caso a empresa Blockstream)
Pouca liquidez dos L-BTCs
Precisa geralmente usar algum serviço externo pra fazer a conversão entre BTC e L-BTC
Solução proposta
Vamos criar o cenário onde João acabou de conhecer o Bitcoin e deseja começar a empilhar seus sats para o longo prazo. João olha para a mempool e vê que cada transação onchain está custando $10.
João, ao invés de ser imbecil e dar ouvidos para shitcoinheiros, mostra que é uma pessoa racional e começa a usar as ferramentas abaixo após decidir que vai comprar 500 reais em bitcoin todo mês mas não vai largar nada na corretora:
João instala a Green Wallet (Android, iOS ou Desktop) e cria uma carteira Liquid nova. Essa é a carteira de acumulação. Tutoriais:
Para a carteira fria com nível máximo de segurança, João cria uma carteira offline seguindo algum desses tutoriais:
Para a conversão de L-BTC para BTC, João instala em seu celular o aplicativo Sideswap, que permite a operação:
João então decide que por enquanto vai comprar bitcoin com KYC através de alguma corretora. Ele decide pela Bipa por ser a mais simples de usar e permite SAQUE LIGHTNING, o que é imprescindível no cenário de João.
Vamos supor que o setup final de João ficou assim:
Corretora: Bipa
Carteira de acumulação: Green Wallet no celular com backup anotado em local seguro
Ferramenta para swap: sideswap
Carteira fria: pendrive Tails + Electrum e carteira watch-only (somente para leitura) na Bluewallet do celular dele, somente para verificar o saldo e gerar novos endereços
No mês 1 João efetua sua primeira compra de bitcoins na Bipa. Ele compra 1000 reais em bitcoin, pagando 1,5% de taxa, resultando em um total de 985 reais convertidos em satoshis.
João agora decide sacar para a carteira de acumulação. Para isso, ele usa um serviço que converte bitcoin da Lightning para a Liquid, através do serviço da Boltz:
Esse serviço cobra as taxas da rede Liquid que são bem baratas e também uma taxa de 0,25%.
João abre a Green Wallet e gera um endereço novo de recebimento para a rede Liquid. Ele então copia e cola o endereço na tela acima e inicia o processo de swap, que irá gerar um invoice Lightning:
Através da Bipa ele simplesmente manda sacar os bitcoins recém-adquiridos através da rede Lightning e paga o invoice acima, resultando em um swap de sucesso. Poucos minutos depois João já consegue visualizar seus L-BTCs na carteira de acumulação.
João decide repetir o processo acima por mais alguns meses, até acumular certa de 5000 reais em bitcoin, o que ele considera então um bom momento pra tirar da carteira de acumulação e enviar para a sua carteira fria. João decide fazer isso em um final de semana onde geralmente a mempool fica mais vazia.
Para realizar a conversão entre o L-BTC e o BTC, João instala em seu celular um aplicativo chamado SideSwap, que permite a realização do peg-out (remover L-BTC da rede liquid e enviar de volta pra rede bitcoin) com uma taxa de serviço de 0,1%. Para usar o SideSwap, João gera outra carteira Liquid, faz o backup dela e envia tudo que acumulou para a nova carteira da SideSwap, para finalmente poder converter:
Assim João faz o envio do seus L-BTC para BTC onchain com a segurança máxima e com um custo baixo, comparado ao tanto que ele pagaria se fosse sacar toda vez a cada compra.
João também poderia manter um pouco de bitcoin em uma carteira Lightning caso decida começar a usar de vez em quando para compras, mas também pode simplesmente usar a Liquid e pagar invoices Lightning fazendo o processo de swap reverso.
Resumo para tiktokers com déficit de atenção
Compras mensais: Bipa (1,5%) → Swap para Green Wallet (L-BTC) através do saque Lightning usando a Boltz (0,25%)
Consolidação: Green Wallet → Sideswap (custo irrisório) → swap L-BTC para BTC (0,1% + taxas de rede) → Carteira fria
Outras alternativas
João no meio do caminho decide que não quer mais usar a Bipa porque prefere comprar bitcoins de maneira anônima. Ele então passa a utilizar a robosats para pequenas compras no P2P usando Lightning e depois realizando o processo de swap normalmente.
João também decide melhorar a sua segurança da carteira de acumulação e adquire uma hardware wallet específica para a rede Liquid, a Blockstream Jade (que também pode ser usada para Bitcoin onchain).
Outras possibilidades:
para as operações gerais de swap
para as operações gerais de swap
Quem tiver outras dicas e sugestões favor enviar nos comentários que eu adiciono aqui na lista :)
Ótimo tutorial. Por mais textos assim: simples, diretos e didáticos. Gostei também do direcionamento para os vídeos, ajudam muito no aprendizado.
Brother, mas, transferir da Bipa direto para Greew não tem taxa até X transações no mês. Vai direto ara wallet sem custo. É isso ou não?