Afinal, o que é o juro negativo?
Entendendo como funciona o jogo criminoso e como recusar participar disso
Recentemente vimos que muitas pessoas ainda tem muitas dúvidas a respeito do verdadeiro significado sobre o ambiente de juros negativos em que vivemos. Até mesmo influencers do mundo bitcoin ou cripto em geral parecem não aceitar corretamente o conceito dessa realidade e acabam de uma maneira ou outra ainda recomendando “diversificação em bons ativos“. Resolvi escrever esse texto de maneira objetiva pra poder dar meu ponto de vista sobre o assunto.
A anatomia do estado
Como a maioria das pessoas que lêem esse blog já sabem, desde 1971 o mundo não vive mais sob uma economia real baseada em lastro de valor com o fim do padrão-ouro. A partir dessa data a moeda se tornou de mentira baseada somente em confiança sobre o estado honrar o valor daquela unidade monetária. Com isso surgiram vários efeitos colaterais baseados nos incentivos que esse tipo de arranjo traz na economia:
A inflação tornou-se vantajosa para os estados, pois a desvalorização do valor da moeda também desvaloriza as suas dívidas naquela moeda
Inflação também traz perigos pois a população em geral odeia ver seu dinheiro perder valor, então o governo tem um incentivo de tentar manter as coisas sob controle com as ferramentas que possui
Uma das ferramentas mais valiosas é a DESINFORMAÇÃO. Por isso, todos os governos criam índices oficiais de inflação, que são constantemente modificados para que a alta real dos preços não influenciam nesses índices. Isso é empiricamente constatado por qualquer pessoa que compare o custo de vida de um ano para o outro e perceba que todos os valores aumentaram muito acima dos índices oficiais
Essa desinformação também é propagada através do controle do currículo oficial das escolas e universidades. Por conta disso, as faculdades de economia ensinam somente teorias econômicas que favoreçam as narrativas falsas dos governos de que imprimir dinheiro é algo saudável, que efetuar controle de preços soviético é uma ferramenta (tabelamento da taxa básica de juros) e que gastos públicos impulsionam a economia
Por conta disso, a inflação REAL nunca pode ser medida através dos índices falsos dos governos mas sim por números reais, sendo o mais preciso deles o aumento da base monetária (M2), ou seja, a quantidade real de dinheiro a mais sendo impresso na economia:
É a partir desse número que você deveria medir seus ganhos reais em qualquer investimento. Como basicamente todos os governos atuais operam em déficit, ou seja, gastam muito mais do que arrecadam, a forma principal de financiamento deixa de ser a arrecadação de impostos e sim a emissão de dívidas e mais dívidas onde a dívida emitida hoje acaba sendo gasta principalmente para pagar os juros sobre a dívida anterior. Soma-se a isto a expansão constante dos gastos públicos (em democracias não há incentivos a se gastar menos - o político pensa em gastar mais que o anterior para realizar mais obras e criar novos programas de redistribuição de renda) e também aos estados de bem-estar social insustentáveis com gastos previdenciários e incontáveis auxílios governamentais que estimulam a vagabundagem em troca de votos. O governo então é incentivado a endividar ainda mais as próximas gerações para conquistar o coração da geração atual, mas esse ciclo depende de crescimento demográfico em larga escala, o oposto do que temos hoje.
Essa emissão de moeda não necessariamente tem efeitos imediatos na sua vida, e é aí que muitos economistas aparecem tentando amenizar esse tipo de prática e desconsiderando esse dado como inflação real. Porém mesmo que o impacto não seja imediato ele continua sendo essencialmente imoral: se um grupo de vagabundos tem o poder de gerar mais dinheiro sem fazer nada e te diluir mesmo que lentamente, uma pessoa racional deve se opor a isso com todas as forças. Essa massa inicial de dinheiro recém-impresso é direcionada principalmente para os amigos do rei: geralmente banqueiros e empresários que tem boas relações com o grupo político no poder, que irão receber dinheiro fresquinho direto da fonte. Esse dinheiro então lentamente começa a escoar pela economia, e lá no final da ponta você pode acabar recebendo uma pequena quantia disso através de algum reajuste salarial. Porém novamente aqui você é enganado duplamente: 1) seu reajuste é baseado em um índice falso da inflação e 2) o aumento já foi diluído ao longo do caminho, fazendo com que você perca seu poder de compra e acabe recebendo uma compensação tardia já desvalorizada ao longo do tempo. Esse é o famoso efeito cantillion:
Considerando os itens acima podemos afirmar categoricamente que não existem investimentos reais em um ambiente desse, pois todos os números oficiais econômicos são baseados em mentiras. Vamos supor o exemplo atual do Brasil (abril/2024):
IPCA (índice “oficial“ da inflação): 4,5% nos últimos 12 meses
SELIC (tabelamento de preço do dinheiro em modelo soviético): 10,75% ao ano
Aumento da base monetária de jan/23 até jan/24: 16,51%
Aumento da base monetária desde jan/20 até jan/24 (pandemia): 94.68%!!!
Olhando os números acima a mentira fica escancarada. A base monetária do povão foi basicamente diminuída pela metade desde a pandemia. Qualquer pessoa que confiou nos números oficiais e “investiu“ em renda fixa se lascou. Qualquer pessoa em renda variável que não tem retornos líquidos (já descontado impostos sobre o ganho falso) também se lascou.
Portanto não existe nenhuma justificativa plausível para que o dinheiro do seu trabalho seja colocado em qualquer coisa regulamentada e domada pelo sistema atual, mesmo que você “goste“ de tal empresa listada em bolsa. Colocar sua energia monetária nesse arranjo é uma estupidez colossal. O governo e os amigos do rei estão te fazendo de idiota, imprimindo mais dinheiro sem trabalho algum e ainda te cobrando imposto sobre os lucros fictícios que você pode conseguir.
O que deve ser feito
A única conclusão possível é tirar o seu dinheiro desse sistema corrompido o mais rápido possível. Uma das opções de antigamente era comprar ouro, porém o ouro é um péssimo ativo como reserva de valor e perde em todas as características comparado ao bitcoin com exceção do tempo de existência:
A opção mais conservadora e segura para qualquer pessoa hoje, principalmente os mais jovens, é simplesmente poupar em bitcoin e focar o tempo livre no trabalho, saúde, hábitos e estudos. Qualquer pessoa que venha falar pra você diversificar em outros ativos provavelmente 1) é vendedor de curso ou relatório 2) é gestor com certificações inúteis que perde até pro CDI 3) é mal intencionado querendo que você perca tempo com shitcoins ou pedras superfaturadas ou 4) é simplesmente burro.
Agradeça que o bitcoin ainda está muito barato e esqueça tudo que os gurus do passado já falaram sobre investimentos. O experimento fiduciário já colapsou muitas vezes no passado e dessa vez não será diferente, apenas a escala das coisas agora é muito maior, com trilhões e trilhões de papeizinhos sem valor correndo na economia e beneficiando somente uma elite de parasitas vagabundos inúteis. Opt-out!
Caro autor desse maravilhoso artigo. Tenho só que expressar minha imensa Gratidão por compartilhar algo tão esclarecedor como esse texto. Mas uma vez muito obrigado
Perfeito, conteúdo muito informativo sem dúvidas.
Eu estava "maratonando" seus posts aqui. Muito obrigado Doom por ajudar a gente, aindaais com aqueles exemplos para leigos kkk
Aliás, o método de acumulação na Green wallet ainda pode ser feito?! Digo, ainda é válido o método, para poupar em taxas por lá em l-btc?